Arcano A Torre
- 24 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de out. de 2024

A Torre, A Casa de Deus, o dedo de Deus, o olho que tudo vê...
Podem me chamar como quiser – de qualquer modo, estou em ruínas.
Sou a estrutura falida que precisa ser destruída.
Destituída de utilidade ou beleza, fui construída sobre a vaidade;
desabafo a minha falsidade e, estrondosamente, desabo.
Sou a Torre, a ostentação, a arrogância, a altivez que não se sustenta.
Sou a construção oca que desmorona
sou o grito que ecoa no vazio de quem está cheio de si.
Sou a queda inevitável, de altura proporcional ao seu orgulho.
Sou a ruptura, a fenda, a rachadura, a quebra.
A saída é para dentro, e eu te empurro - para cair na real!
Nesse castelo de pedras sem escadas, você se viu aprisionado,
e a única porta é a janela: vai ter que pular, aprender a voar.
Saltar para se soltar dessa estrutura obsoleta,
contorcida, distorcida, mentirosa. Basta!
Sou a intenção de alcançar o céu, a Torre de Babel,
a pretensão frustrada, a expectativa caída,
a prepotência: potência antecipada, a imaturidade.
Sou o raio rasgando a tempestade escura, a temida claridade que ilumina o erro.
Sou o lampejo cortante e cirúrgico, mas também
a cicatriz que estanca o sangramento.
Eu, a Torre, sou a prisão ou a masmorra, o sótão que amedronta.
Sou o baú de memórias soterrado no esquecimento,
a frieza e a certeza do mármore sobre o túmulo.
A vida já te deu o alerta, não é de hoje que te disse “não”.
Mas você teimou; o limite estava claro, e você não o ultrapassou:
– você se enclausurou!
Sou a Torre, o momento em que a vida te faz sair do castelo, e te lembra:
você não é rei! A máscara cai e a consciência desperta.
Dói, mas é necessário: você não é mais criança, embora ainda seja infantil.
Infantil é quem ainda não sabe falar.
Infante infantil, precisa aprender a dar nome às coisas que desconhece
para reconstruir um reino que faça sentido.
Paredes e muros caíram por terra, e o que sobra são sombras e escombros.
Esconder o problema não vai fazê-lo desaparecer; é a vida te chamando para crescer: esse lugar ficou pequeno para você.
Eu sou a Torre, sou do tamanho do seu ego,
mas pequena demais para seu talento.
Sou o prédio em chamas para chamar sua atenção,
o telhado de vidro estilhaçado,
a fragilidade escancarada que restaura a humildade.
Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas...
na verdade, seu olhar é que estava enviesado.
Eu não estou aqui para te impedir, mas para te pedir
que antes de prosseguir, olhe por onde pisa:
suas pegadas denunciam que está andando em círculos.
Pare de repetir seus próprios passos,
pois o que te trouxe até aqui não vai mais te levar adiante.
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